quarta-feira, 27 de abril de 2011

A passos tristes e vagarosos, ele ia caminhando...
Estava no momento das três pernas mencionadas pela esfinge...
Caminhava em direção àquela casa na qual vivera por muitos anos ao lado da amada Irene. Ao lado da filha Clara e do filho caçula, o Maurício...
- Onde estão vocês meus queridos filhos?
Maurício havia se casado três anos atrás... A Clara formou-se doutora em biomedicina especializada em genética. Estava morando na França, fazendo parte de um grupo de pesquisadores para detectar o câncer nos genes e retirá-lo. Havia cinco anos que ele não abraçava sua doce filha de cabelos encaracolados e olhos cor de mel.
Ela havia telefonado há dois meses.
- Tudo bem, ela deve estar trabalhando muito e não tem tempo pra ligar.
E, pensando assim, chegou o pobre velho à frente de sua casa, apoiou a bengala no muro, retirou com muita dificuldade as chaves do bolso...
E lembrou-se de Irene... O sorriso macio, sincero. E olhou para a porta da velha casa, uma porta surrada pelo tempo. E ele não teve forças de girar a chave do portão. Tentou segurar a bengala, mas esta escorregou-lhe da mão e caiu, fazendo o mesmo barulho da colher de pau que irene usava para fazer aquele doce de abóbora. Agora ele sentiu o gosto.
- Ah, Irene, você sabe que eu amo esse doce!
- Eu sei, meu velho! Fiz pra você...
E ele ouviu a mansa voz de Irene... Os olhos cor de dia chuvoso...
As pernas não aguentaram mais, foi caindo, dobrando os joelhos. Uma forte dor no peito. Olhou para a porta. Ela se abria.
- Irene, meu Amor, que saudade!
Ela estendeu os braços e sorriu.
Ele foi para junto dela e seu corpo caiu por vez na calçada.
Começava a chover uma chuva fria de julho...

(Um conto de Gerson Pereira. Escrito em 27 de Abril de 2011)

2 comentários:

Janaina Ferreira disse...

belissimo conto, até me emocionei aqui

MJFortuna disse...

Muito bonito seu conto. E sua forma de escrever. Parabéns!

Um abraço

Maria J Fortuna